Nós
encontramos o início da história dos papas na Sagrada Escritura quando
Jesus Cristo disse ao apóstolo Pedro: "Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei minha Igreja" (Mateus 16, 18). O apóstolo era chamado de
Simão, e Cristo lhe dá o apelido de Pedro que em grego significa pedra, rocha.
Cristo nominando Pedro significa que o apóstolo seria a pedra firme, a
rocha inquebrável que daria sustentação à Igreja, apesar de ser uma pessoa
humana, frágil e sujeito à toda e qualquer limitação.
Diante deste
chamado ele é destinado para "apascentar as ovelhas" (João
21,17), como pastor que conhece as suas ovelhas e dá a vida por elas. O papa,
portanto, é o sucessor de Pedro, o centro da unidade de toda a Igreja "é
o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer
da multidão dos fiéis" (Concílio Vaticano II: LG n° 23). Mais do que uma
autoridade a promulgar dogmas e ensinar a doutrina, o papa é o elo de
unidade e de comunhão de toda Igreja.
O segredo da
Igreja para se manter viva como um corpo vivo milenar, atravessando séculos,
culturas, guerras, discórdias, e sempre firme, é a certeza de que não somos nós
humanos a conduzir este barco. O barco é de Jesus, que escolhe e chama
homens, pessoas simples, humildes, para estar no lugar Dele, e com Ele
tornar visível a casa, a assembleia reunida.
Por isso
Jesus afirma: "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estarei
no meio deles" (Mt18,20). A presença de Jesus entre nós, mesmo às vezes
pensando que Ele está dormindo no barco, é a garantia de ancorar em porto
seguro, da calmaria em mar revolto, de tranquilidade em tempos difíceis.
Ele acalma, tranquiliza e questiona: "porque tendes medo"? As ondas
do mar nunca serão mais fortes do que o barco do Mestre.
Nestes dias
de apreensão e curiosidade sobre quem assumirá o leme do barco, que é a Igreja,
a mídia nacional e internacional escolheu alguns nomes chamados de
"papáveis". Neste elenco divulgado, não podia faltar dois dos nossos
cardeais brasileiros. Eu fui abordado várias vezes para falar deles, pois os
conheço de longa data. O homem a ser escolhido será surpresa para todos.
Nestes dias
de reunião dos cardeais, que ainda não estão sob segredo, falei por telefone
com Dom João Braz Cardeal Aviz. Ele dizia: "Aqui entre nós não há
nomes favoritos, ninguém comenta nada sobre este ou aquele. Estou
impressionado com o clima de amizade e de abertura de coração existente nas
nossas reuniões. É a primeira vez que participo e estou admirado pelo ambiente
de confiança e companheirismo".
Assim a Igreja
faz o seu caminho no mundo sem ser do mundo (Jo 17,10). É igreja é santa e
pecadora, feita de homens e mulheres santos e de papas santos. Para mim, Bento
XVI deu um sinal público e notório de santidade ao reconhecer-se limitado, incapaz
fisicamente falando, para estar no leme do barco.
Só é capaz de
atitudes heroicas, de gestos que tocam o coração, aquele que se deixou
moldar pelo amor verdadeiro, pelo serviço desinteressado, pela autoridade
discreta. Queira Deus que eu também tenha a força e a coragem dos santos vivos
e jamais a covardia de quem se veste de pele de carneiro, mas são lobos
ferozes.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)
Fonte: http://www.misericordia.org.br