O verdadeiro sentido do Natal para os católicos
O verdadeiro Natal nunca muda,
pois não muda também a compreensão do que é o Natal na alma dos católicos de
verdade. Nessas almas, mais do que o consumismo estúpido, mais do que a
vermelha figura do Papai Noel, em seu trenó deslizante no verão brasileiro,
mais do que a maçante Gingle Bells, exaustivamente tocada nas lojas com
descartáveis produtos coloridos, ressoa o hino cantado pelos anjos “Glória in
excelsis Deo”. Ressoam as puras notas do “Puer natus est nobis, et filium nobis
est datum”. Porque, para nós que “habitávamos nas sombras da morte, para nós
brilhou uma grande luz”. Que se entende, hoje, que é um “Feliz natal, para
você” ? No máximo da inocência, um regabofe em família, com presentinhos,
beijinhos e indigestão.
E quando o Natal não é tão
inocente...
Quando o Natal não é tão inocente se
realiza o canto pagão e naturalista; “Adeus ano velho. Feliz ano novo. Muito dinheiro
no bolso. Saúde para dar e vender”. Eis a felicidade pagã: dinheiro, saúde,
prazer. Sem Deus. Sem Redenção. Sem alma. Que triste Natal esse! Que infeliz e
decrépito ano novo, tão igual aos velhos anos do paganismo!
Será que o povo que habitava nas sombras
da morte já não vê a grande luz que brilhou para ele em Belém? Até a luz do
Natal está ofuscada. E quão poucos compreendem essa luz!
No presépio se conta tudo.
Tudo está lá bem resumido. Mas o
povo olha as pequenas figuras e não compreende o que significa que um Menino
nos foi dado, que um Filho nasceu para nós.
No presépio se vê um Menino numa
manjedoura, entre um boi e um burro...
A Virgem Maria, Mãe de Deus adorando seu Filhinho que é o Verbo de Deus
encarnado, envolto em panos. São José, contemplando o Deus Menino tiritante de
frio, à luz de uma tosca lanterna. Um anjo esvoaçante sobre a cabana rústica.
Uma estrela. Pastores com suas ovelhas, cabras e bodes. Um galo que canta na
noite. Os Reis que chegam olhando a estrela, seguindo a estrela, para encontrar
o Menino com sua Mãe. Tudo envolto no cântico celeste dos anjos;
“Glória a Deus nas alturas! E paz,
na terra, aos homens que têm boa vontade” (Luc. II, 14)
Isso aconteceu nos dias de Herodes,
quando César Augusto decretou um recenseamento. E como não havia lugar para
Maria e José na estalagem, em Bethleem, terra de Davi, eles tiveram que se
refugiar numa cocheira, entre um boi e um burro. Porque assim se realizaram as
profecias:
* “E tu, Bethleem Efrata, tu és a mínima entre as milhares de Judá, mas de ti
há de me sair Aquele que há de reinar em Israel, e cuja geração é desde o
Princípio, desde os dias da eternidade”, como profetizou o Profeta Miquéias
(Mi. V, 1). ** ”O Senhor vos dará este sinal: uma Virgem conceberá, e dará à
luz um filho, e seu nome será Emanuel” (Is. VII,14) *** “O Boi conhece o
seu dono, e o burro conhece o presépio de seu senhor, mas Israel não me
conheceu e o meu povo não teve inteligência” profetizou Isaías muitos séculos
antes (Is. I,3).
E Cristo, nos dias de Herodes, nasceu
em Bethleem que quer dizer casa do pão (Beth = casa. Lêem = pão). Cristo devia
nascer em Belém, casa do pão, porque Ele é o pão que desceu dos céus, para nos
alimentar. Por isso foi posto numa manjedoura, para alimentar os homens. Devia
nascer num estábulo, porque recebemos a Cristo como pão do Céu na Igreja,
representada pelo estábulo, visto que nas cocheiras, os animais deixam a
sujeira no chão, e comem no cocho. E na Igreja os católicos deixam a sujeira de
seus pecados no confessionário, e, depois, comem o Corpo e bebem o Sangue de
Jesus Cristo presente na Hóstia consagrada, na mesa da comunhão. Jesus devia
nascer de uma mulher, Maria, para provar que era homem como nós. Mas devia
nascer de uma Virgem — coisa impossível sem milagre — para provar que era Deus.
Este era o sinal, isto é, o milagre que anunciaria a chegada do Redentor: uma
Virgem seria Mãe. Nossa Senhora é Virgem Mãe. E para os protestantes, que não
crêem na virgindade perpétua de Maria Santíssima, para eles Maria não foi dada
por Mãe, no Calvário. Pois quem não tem a Maria por Mãe, não tem a Deus por
Pai. E por que profetizou Isaías sobre o boi e o burro no presépio?
Que significam o boi e o burro?
O boi era o animal usado então, para
puxar o arado na lavoura da terra.
Terra é o homem. Adão foi feito de
terra. Trabalhar a terra é símbolo de santificar o homem. Ora, os judeus tinham
sido chamados por Deus para ser o sal da terra e a luz do mundo, isto é, para
dar vida (sal) espiritual, santidade, aos homens, e ensinar-lhes a verdade (luz).
O boi era então símbolo do judeu.
O burro, animal que simboliza falta de sabedoria, era o símbolo do povo gentio,
dos pagãos, homens sem sabedoria. Mas Deus veio salvar objetivamente a todos os
homens, judeus e pagãos. Por isso, no presépio de Cristo, deviam estar o boi (o
judeu) e o burro (o pagão). Foi também por isso que Jesus subiu ao Templo
montado num burrico que jamais havia sido montado, isto é, um povo pagão que
não fora sujeito ao domínio de Deus. E os judeus não gostaram que o burro fosse
levado ao Templo, isto é, que Cristo pretendesse levar também os pagãos à casa
de Deus, à religião verdadeira. Por isso foi escrito: “mas Israel não me
conheceu e o meu povo não teve inteligência”.
Como também o povo católico, hoje, já não tem inteligência para compreender o
Natal, pois “coisas espantosas e estranhas se tem feito nesta terra: os
profetas profetizaram a mentira, e os sacerdotes do Senhor os aplaudiram com as
suas mãos. E o meu povo amou essas coisas. Que castigo não virá, pois, sobre
essa gente, no fim disso tudo?” (Jer. V, 30-31). Pois se chegou a clamar:
“Glória ao Homem, já rei da Terra e agora príncipe do céu”, só porque o homem
fora até a Lua num foguete, única maneira do homem da modernidade subir ao céu.
No Natal de Cristo, tudo mostra como Ele era Deus e homem ao mesmo tempo. Como
já lembramos, Ele nasceu de uma mulher, para provar que era homem como nós.
Nasceu de uma Virgem, para provar que era Deus.
Como um bebê, Ele era incapaz de andar e de se mover sozinho. Como Deus, Ele
movia as estrelas. Como criança recém nascida era incapaz de falar. Como Deus
fazia os anjos cantarem. Ele veio salvar objetivamente a todos, mas nem todos o
aceitaram. E Herodes quis matá-lo. Ele chamou para junto de si, no presépio, os
pastores e os Reis, para condenar a Teologia da Libertação e os demagogos
pauperistas que pregam que Cristo nasceu como que exclusivamente para os
pobres. É falso! Assim como o sol brilha para todos, Deus quis salvar a todos
sem acepção de pessoa. Por isso chamou os humildes e os poderosos junto à
manjedoura de Belém.
Mas, dirá um seguidor do bizarro frei Betto ou do ex frei Boff, que nada
compreendem do Evangelho pois o lêem com os óculos heréticos e assassinos de
Fidel e de Marx, sendo “cegos ao meio dia” (Deut. XXVIII, 29): Deus tratou
melhor os pastores pobres, pois lhes mandou um anjo, do que os reis poderosos,
exploradores do povo, aos quais chamou só por meio de uma estrela. É verdade!!!
Deus tratou melhor aos pastores. Mas não porque eram pastores, e sim porque
eram judeus. Sendo judeus, por terem a Fé verdadeira, então, mandou-lhes um
sinal espiritual. Aos reis magos, porque pertenciam a um povo sem a religião
verdadeira, mandou-lhes um sinal material: a estrela.
No presépio havia ovelhas e bodes, porque Deus veio salvar os bons e os
pecadores.
E a Virgem envolveu o menino em
panos. Fez isso, é claro, porque o pequeno tinha frio, e por pudor. Mas
simbolicamente porque aquele Menino — que era o Verbo de Deus feito homem —,
que era a palavra de Deus humanada, tinha que ser envolta em panos, pois que a
palavra de Deus, na Sagrada Escritura, aparece envolta em mistério, pois não
convém que a palavra de Deus seja profanada. Daí estar escrito: “A glória de
Deus consiste em encobrir a palavra; e a glória dos reis está em investigar o
discurso” (Prov, XXV, 2). E “Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado,
e o império foi posto sobre os seus ombros, e seu nome será maravilhoso, Deus
Poderoso, Conselheiro, o Deus eterno, o Príncipe da Paz” (Is. IX, 5). Porque
todos os homens, em Adão, haviam adquirido uma dívida infinita para com Deus,
já que toda culpa gera dívida conforme a pessoa ofendida. E a ofensa de Adão a
Deus produzira dívida infinita, que nenhum homem poderia pagar, pois todo
mérito humano é finito. Só Deus tem mérito infinito. Portanto, desde Adão,
nenhum homem poderia salvar-se. Todos nasceriam, viveriam e iriam para o
inferno. E a humanidade jazia então nas sombras da morte. Mas porque Deus
misericordiosamente se fez homem, no seio de Maria, era um Homem que pagaria a
dívida dos homens, porque esse Menino, sendo Deus, teria mérito infinito,
podendo pagar a dívida do homem. Por isso, quando Ele morreu por nós, foi
condenado por Pilatos, representando o maior poder humano — o Império — que O
apresentou no tribunal dizendo: “Eis o Homem”. (Jo XIX, 5)
Ele era O Homem. Era um homem que pagava
os pecados dos homens assumindo a nossa natureza e nossas culpas, mas sem o
pecado. Era Deus-Menino sofrendo frio e fome por nossos confortos ilícitos e
nossa gula, na pobreza e no desprezo, por nossa ambição e nosso orgulho. E os
pastores e os Reis O encontraram com Maria sua Mãe, para mostrar que só
encontra a Cristo quem O busca com sua Mãe. E para demonstrar que diante de
Jesus, ainda que Menino, todo poder deve dobrar o joelho. E os pastores levaram
ao Deus Menino suas melhores ovelhas, e seus melhores cabritos, enquanto os
Reis Lhe levaram mirra, incenso e ouro. A mirra da penitência. O incenso da
adoração. O ouro do poder. Tudo é de Cristo. Todos, levando esses dons,
reconheciam que Ele era Deus, o Senhor de todas as coisas, Ele que dá todas as
ovelhas e cabras aos pastores. Ele que dá aos Reis o poder e o ouro. Deus é o
Supremo Senhor de todas as coisas. Ele é o Soberano Absoluto a quem devemos
tudo. E para reconhecer que Ele é a fonte de todos os bens que temos é que
devemos levar-Lhe em oferta o melhor do que temos.